Orgulho Hétero (32)

Segundo um estudo bienal do Instituto francês de Estudos Demográficos (INED) a população mundial chegará a 10 bilhões em 2050 e logo agora usa-se como desculpa esfarrapada o discurso de preservação das espécies para se justificar preconceitos e deslegitimar a luta dos LGBT’s se fazendo de vitima do jeito mais bobo possível. 

Até onde me recordo sobre eventos de extinções em massa ( extinção cambriana, extinção do ordoviciano, extinção do Devoniano superior, extinção Permiana, extinção do triássico-jurássico, extinção K.T e por fim extinção do Holoceno) asseguro que as causas do desaparecimentos das espécies não foram causada pelo coito homoerótico. ( srsrs)

Olhando essa foto me recordo de todas as vezes que alguém quis justificar seu preconceito alegando que na reprodução das espécies a vida só se daria de forma sexuada entre organismos de sexo feminino e masculino ( Ignorando reproduções assexuadas e indivíduos monóicos). Esse argumento só seria válido caso nós Homo sapiens não fôssemos seres biológicos e culturais, onde nossa sexualidade vai muito além do que um fenômeno biológico para a geração de descendentes. A sexualidade representa, também, necessidades afetivas e psicológicas , envolvendo fatores culturais, ambientais, religiosos e etc.

Homo sapiens não fazem sexo apenas por que querem ter uma menina e um menino todas às vezes que levam alguém para cama. Homo sapiens quando dizem querer “foder” alguém não querem fecundar um óvulo sequer,não atoa há a existência de vários métodos contraceptivos. Ou seja nós transamos porque queremos sentir prazer, prazer esse que não pode ser negado e deslegitimado pelo seu preconceito retardado e normativo. Cada um é dono de seu corpo , de suas experiências e de seu ser.

Quando alguém que é oprimido socialmente quer ter direitos igualitários não quer dizer que quererem mais direito do que vocês. Quando alguém quer igualdade é para se ter a garantia de serem tratados com igualdade. Construir uma família mesmo que não seja igual a sua. É querer amar e foder quem quiser. É não querer apanhar na rua por cuzões como vocês.

Não vou nem comentar sobre essa foto que usa cerveja, churrasco e mulher gostosa para reafirmar esteriótipos absurdos. Nem em dizer mais uma vez sobre a objetivação sexual da mulher, pois tenho certeza que deve se tratar de uma piada ( de mal gosto).

Quando tentarem reprimir a sexualidade alheia com o argumento de “Adão e Eva”, “preservação da espécie”, entre outros. Ao menos parem de usar camisinha e façam pelo menos um filho por ano já que sexo na espécie humana só serve para gerar vidas. aí a gente conversa.Imagem

O fim do amor (31)

Imagem    Segundo Clarice amar os outros é a única salvação individual, para Shopenhauer o amor é a compensação da morte. Como relatam os livros, nossas avós e o papagaio da vizinha, o amor é o que dá sentido a vida. Para as comédias românticas que tem esse nome por terem confundido humor com amor, tem rir para não chorar. Para mim amar e ser amado é o que revoluciona a gente.

A atração carateriza-se por ser uma experiência imprevisível e sem lógica, onde o outro torna-se o mais desejável dos seres humanos e objeto de contínua atenção levando a  paixão e ao apego. Um dia desses nem de sol nem de chuva, você se pegará olhando o ser amado atirado no sofá e se perguntará onde foi parar o frio na barriga e as promessas que mal esperaram você ganhar alguns quilos a mais para nunca serem cumpridas.

Após roer as dez unhas da mão e sabe-se lá até as dos pés. Depois de abrir a geladeira atrás de um pedaço de qualquer coisa preencha o vazio do estômago mas também da alma. Procurará o amor e ele não mais estará onde foi deixado, sem o cuidado habitual, sem as fitas coloridas. Estará violado e transfigurado em frustração. Você fechará a geladeira e se dará conta que também é hora de partir. Como dizem, o fim do amor acontece nas melhores famílias e nas piores também. Pau que nasce em Jorge também nasce em Zé. Não temos como escapar do fim daquilo que desejamos e esperamos como a salvação de nossas vidas banais na terra.

Já em casa, você se perguntará o que fará dos próximos setenta anos em média do que te resta de vida e recorrerá àqueles amigos que te recomendarão ir ao bar de sempre falar sobre bundas. Nunca a ideia de estar acompanhado de seus amigos pareceu tão inútil, tão agressora, mas sai marchando contra o lado de você que disse que era melhor ficar aos suspiros em casa mudando de canal a cada cinco segundos.

Eles dirão que essa nuvem chuvosa e negra se instalou temporariamente em sua cabeça e que amanhã o sol nascerá de novo no meio da chuva. Um lindo casamento de viúva que após longos anos vestindo todo o seu ser de preto se cansou e casou-se de novo para morar numa casinha confortável qualquer.

Alguma coisa em você se recusa a romper ciclos e a começar de novo, é teu impasse mor , tua cruz sangrenta. Mas logo se dará conta que é melhor deixar esse barco velejar sozinho, levando na embarcação o choro,raiva, medo e lamentação. Perceberá que nem mais se recorda do rosto daquele mamífero que te dava alegria naquele tempo remoto.

Amanhã o sol nascerá rosa e você se perguntará onde esteve todo esse tempo que nunca parou para apreciar tal beleza, inclusive a sua que andava mais surrada do que o normal e sentirá raiva de si mesmo pelo tempo perdido na dor. Amar alguém é como aquela viagem que você fez ano passado, caso volte nas próximas férias perceberá que nem as palmeiras nem você estão no mesmo lugar e do mesmo jeito, um mesmo lugar mas com cenário diferente.  Você foi embora mas o guarda como algo bom que não tem volta.

Como nos salvar? (30)

i want to liveCertamente sabemos como nos tornamos esse rabisco no cantinho da página da vida. Nem sempre foi fácil suportar essa chuva toda sozinhos, dia cinza, primavera estranha, mas não nos importamos mais. Como a maioria dos outros seres igualmente iguais, permaneçemos no tédio e alienação social, querendo realizar o desejo que quando se consome volta ao tédio que céga e aprisiona no indivualismo extremo e egoísta.

A fuga do tédio, a fuga do eu cada vez menos reconhecível. As cervejas quentes, a superficialidade dos encontros. As pessoas que nunca ficam e nós que sempre vamos embora antes do aquecer dos lençóis encardidos.  As pessoas são adereços vazios, todos nós somos enfeites de sábados sem paciência para assistir a nona temporada de uma série qualquer.

Somos apenas um café, um cigarro, calças jogadas no chão de madeira, ereções, secreções, beijos falsos, marcas de batom na camisa do amante. Somos aquilo de mais amargo na existência patética do humano comum.

O prazer é um bem supremo que se paga caro para ter. Escravidão endógena voluntária, junkies frustados. Nos esforçamos interminavelmente, sem fim, sem repouso por uma sede insaciável por carência. Pela necessidade de se sentir bem aos olhos do outro.

Seria mesmo a morte a única forma de escapar do sofriemento inerente à vida? Ou deveriamos nos contentar e aceitar que a beleza da vida, permanece nos filmes e romances? A morte do belo não é diferente da morte de nossas idealizações incoerentes de realidade.

Como construir algo fora das banalidades? Como se contentar? Temos que nos contentar? O que nos satisfaz? Tomar um drink e foder em camas desconhecidas. Somos uma geração do nada por ninguem.

Como transeder a superficialidade sozinhos quando o reino é das aparências e boletos de cartões de crédito? Como encontrar o paraíso quando o dinheiro é o único deus que não tem ateus e as pessoas só são salvas na tv?

Saudadezinha (29)

 ImagemSempre que algo dava errado eu voltava ao nosso passado que de prontidão sempre esteve aqui, antes de tanto ódio inexplicado, antes do vazio que ficou, antes de reapredermos a viver como se hoje fosse o dia de nossos nascimentos.

  O romper do cordão umbilical deste relacionamento que nos unia e nutria noites e noites nessas tantas noites chuvosas, tantas noites nossas. O que a gente faz para amenizar a saudade daquilo que nem sequer existe mais? Daquilo que mal tem rosto de tanto tempo passado.

  Tudo se foi, seu rosto, sua calorosa presença que encheia o sofá debaixo da janela com vista para a lua e para aquela ávore de flores perfumadas que você gostava de cheirar. Tudo se foi menos minha memória emocional que ainda leva você no patamar das melhores sensações que já experimentei.

 Hoje voltei para você num transporte e pouso forçado no meio do nada que viramos. Sem lembrar teu cheiro, sem lembrar teu corpo, só te senti sem pressa, deixei fluir como fazemos com o sol na cara numa manhã de praia. 

 Voltei para os braços quentes que é sua lembrança boa e marcante na minha vida. Voltei para quando as pessoas ainda eram confiáveis, voltei para quando eu ainda não era um ateu do amor. Quando antes de sair eu deixava um bilhete descrevendo as coisas boas que você me fazia sentir. 

Voltei para aqueles teus choros existêncialistas no meio da noite, para aquele beijo que você me dava em seguida me agradecendo por existir. Para o primeiro presente dos dias dos namorados, pro nosso filme preferido,para aquela do Depeche Mode que dizia ” tudo o que eu quero, tudo que eu sempre quis, está aqui nos meus braços”. Voltei por um caminho confortavel e iluminado muito diferente daquele que parti. 

Você costumava ser e ainda é a representação do amor por excelência pois ainda não consegui ver esse sentimento quase mitológico em humano nenhum. Tanto amor querendo ficar para fazer bem, tanto amor querendo existir, mas só existe nesse texto que é meu e seu também. 

Voltei pois quis criar um cantinho só seu aqui dentro do peito.

Moça (28)

ImagemTeu sorriso não me engana, me encanta às três da tarde feito aquele dia que te vi na fila do caixa rápido do supermecado. Moça vamos partilhar dessa sua comida de solteira vendo filme às dez de um dia qualquer?

Você não me conhece mas sei que me espera com essa sua camiseta branca colada no corpo, de cabelos presos com a nunca à mostra mais bela que já vi esperando chegar a minha vez. Moça que sorriu para que meu dia ficasse bom, que me fez na correria e indiferença de um dia qualquer parar para repensar a vida.

Teu sorriso é um tapa na cara de quem no bonde da vida vai dormindo no caminho e perde a beleza de estar sozinho nesse mundo onde nada parece estar no lugar certo, inclusive você que por uma questão de azar cheguei duas pessoas depois na fila, me impedindo então de sem graça me oferecer para carregar o peso de suas sacolas.

No caminho daria para ver você se fazendo de desinteressada, pois onde já se viu dar papo para estranhos? Quando na verdade o que mais queria é que eu subisse até seu apê onde rega suas flores na janela religiosamente todos os dias, onde cultivas a a sensação de que um dia baterei na sua porta e pedirei para ficar um pouquinho, só mais um pouco em sua vida, na nossa, sem pressa de estragar as coisas sem volta para lugar nenhum.

Moça, voltei para casa pensando no teu jeito de andar, na minha vontade de querer saber qual é a tua cor preferida, se gosta de café ou prefere suco, se prefere Fellini a a Wood Allen, se gosta de ler ou se tem na verdade um pouco de preguiça.

Te imagino ouvindo Beatles cantarolando e fazendo dancinhas pela casa. Te imagino contando sobre mim para suas amigas ansiosas.Te imagino sendo minha, toda minha e de mais ninguem.

Te imagino, só imagino como se te conhecesse dessa vida e de todas outras, como se eu tivesse fé em alguma coisa, no destino, reencanação, Alá ou em astrologia. Como se estivesse escrito em algum lugar nas estrelas que hoje seria um dia para nascer de novo.

Apertei repeat na nossa música que não existe ainda.  Fiz um desenho bem colorido pois foi assim que você deixou meu dia. Te olhei nos olhos imaginários de suas órbitas de menina e na boa não quis voltar da janela de sua alma, a melhor vista que já vi.

Do Amor (27)

64218_414389448636204_170446725_n O meu amor anda por aí nas ruas que não aparecem no mapa, se essa rua fosse minha eu mandava fechar todas as portas para ela ficar parada onde eu pudesse vê-la e no susto dar um beijo demorado na porta da padaria.

Meu amor tem tanto amor no peito que foi inventado e enfeitado no domingo às onze e virou texto mais açucarado que filme com a Julia Roberts. Meu amor faz cena de cinema quando vai embora e me puxa pela blusa e diz que quer ficar.

Meu amor é que nem música do Chico, é Mozart num dia de sol, é  livro com aquele cheiro bom que da ansiedade para ler mas temos medo de tocar só para não amassar as páginas. É embarcar num trem só de ida e não tem volta para os dias cinzas de cara fechada.

A química, a cumplicidade o discurso de amor incondicional deitados na cama antes do pão com manteiga, da cortina a ser aberta, do banho juntinho, do segredo compartilhado, a primeira briga e o sexo de reconciliação. Meu amor é do jeito dela e eu do jeito que sou sem saber ser qualquer coisa.

Meu amor foi premeditado mas se perdeu no caminho de casa, aceitou doce de estranhos e saiu de mãos dadas com o maníaco que violenta  paixão dos outros. Meu amor é a única exceção do mundo que não se metamorfoseou em mentira e enganação.

Meu amor me quer sem joguinhos.  Me quer a noite pra tomar uma gelada e esquece da mesa ao lado, pro meu amor não existe outra coisa se não amar, meu amor é mais amor do que os outros, meu amor é o mais doce de todos mas sou diabético emocionalmente e por isto agradeço a sua não existência pois se assim fosse seria uma puta chatice.

Pra parar de se perder (26)

  ImagemZero vezes zero é zero ou seja não existe meios ao menos comprovados estatisticamente, cientificamente ou pela NASA, pelo Papa, pelo porteiro do prédio da frente, nem pela Laica  minha cadela que até onde sei não consegue comprovar nada, de se perder aquilo que não se tem. 

  Não fiquem nesses “chove não molha”, sejam tempestade, terremoto, vulcão, qualquer coisa digna de um estrago decente , não sejam mornos, sejam frios ou quentes, sejam dignos de uma lembrança qualquer, quem passa despercebido não deixa história, não alimenta porre, punheta, noite sem dormir, chega e logo se esvai sem ser percebido. Gostosa ou ruim mas que seja algo, não essa falta de existir, essa falta de peso, sem honra nem mérito.

 É tempo de ” eu não estou preparado”, ” não sei se estamos fazendo certo”; “sou jovem demais para casar”, “quero conhecer outras pessoas; “o problema não sou eu , é você”, então se querem manual de instruções que comprem logo um vibrador e se entalem de solidão plástica, na cor que preferir e deixem a vida para quem sabe viver.

  Que vá para o inferno a lei da casualidade pois a ordem é o caos, não da pra pensar duas vezes vendo o bonde da vida passar enquanto você não sabe se toma o caminho da esquerda ou da direita, pula logo dentro do bonde ou debaixo , sobre os trilhos, pois não há dignidade numa vida que não é vivida e sim empurrada.

 Não se perde pessoas investindo todo o seu bem querer do qual vemos em filmes, aprendemos com nossos avôs ou naquele ‘como conquistar fulanos e cicranas em dez passos”. Pessoas assim como plantas, necessitam de bom trato e cultivo, nunca vi jardineiro regando margaridas só quando estavam prestes a morrer, feito salva-vidas dando sopro nos pulmões quase mortos.

 Todos os dias perdemos pessoas em padarias, nas livrarias, nos sinais vermelhos, nas camas vazias. Quando ela conheceu alguem que deu atenção, quando resolveu se focar na vida, quando voltou a pintar quadros ou ouvir algum album novo de algum cantor que ninguem conhece.

    As pessoas se perdem nos dias que passam, um sucedendo o outro, em cada esquina virada, cada buzina de carro. Se perdem seguindo outros caminhos que esbarram no caminho de outras pessoas que dão frio na barriga, que ligam no outro dia, que diz que gosta mas desmente por vergonha de assumir, que beija gostoso e sem medo, medo de viver sua própria vida e a vida com o outro que veio parar lá sabe-se Deus como, talvez por falta de coragem aleia.

 Portanto larguem de ser bundões e façam alguma coisa, quem sabe assim o gene da covardia seja existinto e as próximas gerações saibam melhor do que a nossa como se relacionar.

Minha paixão é desapaixonante (25)

Imagem  Paixão, puta troço chato que te tira do chão mas não te segura na queda. Tira o sorriso da cara feito piada sem graça, você se enforça a entender enquanto o locutor explica-se sem coerência nenhuma, são sorrisos desperdiçados-amarelados. A medida que os ponteiros do relógio na parede parecem não passar você se pergunta o que te faz ficar horas a fio não gostando nada da cara do ser que te enfiou borboletas no estômago, no âmago de sua vontade de querer dormir juntinho com cochão no chão e filme na tela.

Assim como as piadas sem graça, não da para entender mas você bem que se esforça. Paixão não tem sentido nenhum mas carece de admiração ou tesão sei lá, a gente sisma de madrugada sexta-feira a noite voltando pra casa após ir pro bar e ficar admirando a profundidade de um copo com cerveja, feito poesia, feito maresia que te enferruja o peito.

Até a pouco estava tudo bem. Serviço em dia, aulas da semana preparadas com o amor de quem pinta quadros e tudo de qualquer cor que remeta felicidade. Dava pra comer nas horas certinhas, de três em três horas assim como recomendam aqueles que  gostam de controlar até a hora que você coloca coisas na boca.

Aí tu se apaixona e tudo vira poema. Xilema e floema, alcanos e alcenos,mesmices e chatices. Tudo desanda e você não anda, nem pra frente, nem para trás. Depois das palpitações infernais em terminais de ônibus lotados, chega em casa e toma banho para lavar a pessoa que te sujou até a alma.

Se somarmos todos os banhos que tomamos para esquecer cada pessoa, passaremos dois meses inteiros debaixo do choveiro. Isto é, a metade de um verão, uma viajem para Europa ou justinópolis, janeiro e fevereiro. Se somarmos o tempo que tomamos café pensando em alguem que te chutou a bunda passaríamos umas sessenta horas seguidas.

Para caras como eu isto leva uma vida inteira, já pensou? De janeiro a dezembro? Não mesmo, não mais , saí fora! Minha paixão é desapaixonante te boto na estante e deixo a poeira a te cuidar. Gastarei dois meses inteiros tomando banho junto, janeiro e fevereiro sorrindo de orelha a orelha, sessenta horas de café da manhã na cama, e milhões de minutos intereiramente meus, só meu de mais ninguem. Minha paixão é desapaixonante pois começa hoje, amanhã já nem sei , pode ir embora do jeito que veio pois já tem passageiro novo no lugar vago desse vagão, o último a sair apaga esse clarão!

Gente que sente demais (24)

ImagemNão sei lidar com pessoas, são feito balões coloridos que estouram quando toco,como babaloo que a gente engole sem ter sentido o gosto, amargo ou doce, não dá pra saber pois descem pela garganta sem sequer uma mordida.

Não sei lidar com gente com cachinhos na cabeça, gente com cílios muito longos, gente que faz o sofrimento parecer coisa boba porque tem a dor mais bonita do mundo. Não sei lidar com gente que quer ser tratada bem até por vendendor de fogão,gente que tem a voz gostosa, gente que fica bem de uniforme, gente  que faz a gente ficar de braços cruzados pra segurar a vontade de abraçar e não soltar. Gente que da vontade de passar a noite transando.

Não sei lidar com o acaso que coloca em teste os anos que levei pra ficar bem, que levei para sorrir, para acreditar em mim e no outro, que parei de me perder nas falas mansas e nas mais urgentes promessas de sexo casual mas memorável. Reservo-me no direito de ficar parado feito rocha de amolar faca, que deixa se cortar para tornar-se uma versão melhor da pedra que é.

Como diria uma amiga, sou pós graduado em relacionamentos, ou na falta deles. Pós graduado em filosofia de merda e de buteco. Conto histórias pra baratas de cantinhos escuros do coração, nos cantinhos só com teia de aranhas pois elas se mudaram quando ficaram prontas pro amor, nada de patinhas quebradas. E assim prosseguiram com suas vidas aracnideas.

Não sei lidar com gente que me da friozinho na barriga, gente que diz que fica mas bate a porta na cara, gente que deixa as coisas com cara de algodão-doce, gente que deixa a gente de coração mole mas de pau duro. Gente que acerta nos presentes, gente que surpriende na hora errada, pois é mais fácil lidar com babaquice do que com meiguice.

Eu não sei lidar com gente nenhuma, se dependesse de mim a humanidade deixaria de existir exatamente agora as 22:57, amanhã acordarei sem nada no peito e vão aparecer mais gente que chega como chegam sem hora e nem data, ma só por hoje quero ficar com essa dorzinha aqui dentro antes dela morrer.